Pense numa floresta
encantadora, um lugar mágico que ocupa um espaço menor que um quarto, situado
no canto de um muro, numa casa de esquina no interior de Minas Gerais. Assim
era meu pé de maracujá. Ele havia crescido no encontro dos dois muros, no bico
da rua. Seus galhos grossos se entrelaçaram de tal modo que era possível
caminhar em cima. Debaixo dele era escuro, mas o sol da tarde conseguia entrar
por algumas frestas e salpicava o chão com pequenos círculos de luz. Lembro-me
de suas folhas verde-escuras em forma de estrelas encolhidas e de como eram
lisas, e de como as folhas de cima refletiam a luz da tarde.
Aos pés do
maracujazeiro cresciam folhas de hortelã e um perfume fresco se espalhava por
todo canto. E quando as flores do maracujá se abriam não se sabia dizer qual o
perfume mais gostoso. Eu achava as flores de outro mundo. As pétalas como
estrelas de várias pontas e rodeadas de penugens que do miolo as bordas iam de
roxo ao branco atraiam os mangangás com aqueles corpos gordos e asas
barulhentas. Eu morria de medo, mais adorava vê-los em sua visita alegre e
ruidosa. As borboletas eram um caso aparte. Tinham asas de cor laranja. Algumas
com nervuras pretas e pintinhas brancas outras com asas de um tom mais claro de
um lado e levemente prateado do outro. Mas o que tinham em comum era que quando
estavam pousadas, abriam e fechavam as asas devagar. Sempre me perguntava por que
não podiam simplesmente ficar imóveis desfrutando com calma daquele néctar que parecia
estar uma delícia? Vai lá saber, né... a natureza e seus costumes. Mas descobri
um dia que eram de lá, do interior da floresta que vinham. Seus casulos ficavam
bem escondidos nos galhos, entre as folhas. Eram simples, marrons, mais, hoje pensando
com mais clareza, eram lindíssimos...!
O interior do
maracujazeiro era uma floresta repleta de criaturas selvagens, uma caverna inexplorada
ou, uma cabana de férias nas montanhas, dependendo do dia e da vontade. O teto
era uma excelente cama, onde se podia deitar e contemplar o céu azul, ou ficar
sentado de bobeira, conversando sobre qualquer coisa. Mas hoje penso que se eu
pudesse voltar no tempo, aproveitaria bem mais a visão do céu daquele
lugarzinho. A gente com essa mania de querer voltar no tempo...